Antes de começar devo dizer e deixar bem claro que
estou grata por ter trabalho; que o mais importante é ter trabalho; se gosto ou
não, já lá irei; mas gostar não é o mais importante (até podia ser e se calhar
devia ser, mas não é). Importante sim, é trabalhar e poder pagar as contas e as minhas coisas.
Este ano fiquei colocada mais tarde que o ano
passado e admito que já estava a entrar em stress. Fiquei colocada com horário
completo temporário. Fiquei satisfeita porque sei que muitas vezes os horários temporários
prolongam-se, embora nunca haja esse tipo de certezas. De qualquer forma, nunca
pus em causa aceitar ou não a colocação. Aceitei.
Pois bem, começo pelo horário … foi a primeira
coisa que me desagradou porque contém uns apoios de 1º ciclo dos quais nunca
tinha ouvido falar (na hora das aulas do professor titular) e é muito semelhante
aos horários das AEC que existiam em 2006. Menos mal que saio às 17h e não às
17h30. A desvantagem é que entro sempre às 13h30 (sem contar com os apoios que
serão das 11h às 12h) e não posso almoçar com ninguém porque ninguém tem o
mesmo horário de almoço que eu. Depois de ter tido um horário maravilhoso no ano
letivo passado (com tempo para estar com as pessoas, que me permitia ver caras
conhecidas e amigas pelo menos uma vez por semana), este custou-me muito a
aceitar. Custa-me muito passar todos os dias sem ver uma cara conhecida; acho
que me sinto perdida como uma criança quando não vê o pai ou a mãe ou alguém de referência.
Como referi, entrei já o ano letivo decorria.
Senti-me caída de para-quedas, sem ver preocupação nenhuma de ninguém em me
integrar e me pôr a par das coisas. Eu é que tive de procurar as pessoas
responsáveis nas escolas (que agiram como se nem estivessem à espera de
colocação duma professora de inglês) e continuo sem informações básicas que considero
importantes (a que reuniões vou: 1º ciclo ou inglês?, fotocópias, testes,
sumários, critérios de avaliação). Serei eu que me preocupo demais? (Já me disseram isso noutras situações.)
Sei que existe outra professora de inglês de 1º
ciclo, mas ninguém me falou nela ou disse para falar com ela… Talvez neste
Agrupamento não seja suposto trabalhar em conjunto, não sei …
Os alunos ainda não têm os livros de inglês, alguns
nem caderno tinham comprado (mesmo os de 4º ano, que já tiveram inglês
curricular no 3º ano). Tive outra “boa” surpresa: tenho uma turma mista (sim,
eu sei que este tipo de turmas é legal) mas isto significa que, durante a mesma
hora, eu trabalhe conteúdos diferentes com materiais diferentes para que os
alunos aprendam o que é suposto aprenderem no ano de escolaridade a que
pertencem.
Isto de ser professora de inglês no 1º ciclo é "ser ovo, não se é nem carne nem peixe"… Não me sinto parte de nada … Acho que ainda muito tem
de ser mudado e aceite para que passemos, de facto, a pertencer a alguma coisa, a fazer parte de algo. O inglês do 1º ciclo ainda é visto como a "ovelha ronhosa" que veio mexer com a tão adorada monodocência no 1º ciclo.
Além disso, a minha formação base é 3º ciclo e secundário, logo, ensinar inglês ao 1º ciclo (especialmente no ensino público; no privado cheguei a preparar alunos dessa idade para exames do Cambridge e isso sim, é outro nível de ensino de inglês ao 1º ciclo) faz-me sentir um pouco aquém das minhas capacidades, "não é exatamente a minha praia". Gosto e sinto necessidade de outros desafios.
Além disso, a minha formação base é 3º ciclo e secundário, logo, ensinar inglês ao 1º ciclo (especialmente no ensino público; no privado cheguei a preparar alunos dessa idade para exames do Cambridge e isso sim, é outro nível de ensino de inglês ao 1º ciclo) faz-me sentir um pouco aquém das minhas capacidades, "não é exatamente a minha praia". Gosto e sinto necessidade de outros desafios.
Conto-vos tudo isto para concluir que perdi algum
entusiasmo pelo ensino; aquilo que sempre foi a minha paixão parece estar a
desaparecer. Isto preocupa-me, porque sempre acreditei que para se ser
professor tem de se ter paixão pela profissão. Como a frase de Confúcio “Escolhe
um trabalho de que gostes e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida”; foi
como sempre vi a minha profissão (nunca quis ser outra coisa que não
professora). Mesmo a nível relacional com os alunos, já não “me dou tanto”; no
ano seguinte já não estarei ali, para quê criar laços afetivos para depois
sofrer com a separação. Não os voltarei a ver, que importa? Neste momento, sinto que vou dar aulas apenas para
cumprir o meu trabalho e poder ganhar o meu salário ao final do mês.
Estarei errada? Estarei a exagerar? Estarei a
queixar-me sem motivos? Pois, não sei …
Devo dizer também que me queixei de situações no
passado das quais (provavelmente) não o deveria ter feito. A vida prova-me
constantemente que pode sempre haver pior, sempre. Por isso seria melhor não me
queixar de todo, mas é mais forte do que eu.
A única coisa que sei neste momento é como me sinto
…. e sinto-me triste por não ficar feliz
por fazer o trabalho que faço.
Sinto-me grata por ter trabalho (disso não tenho qualquer
dúvida; agradeço todos os dias), mas gostava de me sentir mais realizada e
feliz naquilo que faço. Estarei a pedir demais?
(Sem dúvida que voltarei a este tema muito em
breve.)
Sem comentários:
Enviar um comentário